sábado, 5 de março de 2022

 

 

negro de ódio

o buraco

alastra em disrupção


procura-se sozinho

em bandos

de pardais aprisionados


apenas tentando ulular

como ululam

os uh-la-lahs desperdiçados


restam as palavras autofágicas.

 

 

 

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

 

 

Gostaria de dizer

em meu benefício

que tudo o que diga

em meu benefício

pode ser condicionado

pelo que outros pensam ser

o meu benefício


beneficiando disso

vou cortar expectativas

em meu benefício

nivelar padrões

ajustando-os

em meu benefício


no fim, de nada

beneficio.

 

 

 


no fim, de nada

beneficio.

 

 

 

 


sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

 

 

 

pessoas que anseiam um passado

pessoas que recordam um futuro...


juntas, não fazem um presente.

 

 

 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

 

 

quando estás bem

todos te querem em baixo

quando cais

todos estendem a mão


não lhes interessa

na verdade

não querem saber


é-lhes apenas insuportável

algo diferente.

 

 

 


domingo, 12 de dezembro de 2021

 

Se dissesse que te

amo sem saber

acharias que minto

que sou doido

estarias certa


porém se te dissesse

que sem saber

posso amar-te

sem mentir

acharias o mesmo


estaria certo.

 

 

 


terça-feira, 7 de dezembro de 2021

 

depois da fé

não há retorno

buraco negro

não eclipse.


 

 

sábado, 4 de dezembro de 2021

 

 

 

aparentemente ninguém gosta

de aparências

tudo se acha autêntico

genuinamente


porém só respondem ao cintilar

que não é

aparenta.





quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Álbum

O catálogo mnemónico

cronologicamente encaixado

equilibra-se na corda bamba

o tempo…

o que se inventou



e depois tudo vem

e vai

e volta

na aleatoriedade de uma melodia.





sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Sem intenção

Cumprem-se os dedos

Roendo informação desnecessária

Olhando sem ver

Liturgias alheias

Lambuzando a mente absorta

Inconformismos expectantes

Numerosos pontos de contacto

Garantindo a imersão.

 

 

 

 

 


sábado, 6 de novembro de 2021

Reciclagem

cada morte

um renascer

cada nascimento

um homicídio


amassar os dejectos

como artesão

endiabrado pelo vazio

a reconstrução de tudo

do nada


como o rabo da lagartixa.



sábado, 14 de agosto de 2021

Sexta-feira, 13

costumava acreditar na magia

nas fábulas que brotam do acaso

como se o destino as moldasse


e tudo era sentido

no caos do alinhamento

e tudo, num momento

podia ter sentido


era melhor quando cria

quando o coração batia

e num sopro tudo podia

resolver-se


má sorte a racionalidade

que rejeita a própria

má sorte

a fluidez do desnorte

não possa ancorar a razão


a fé em algo, em alguém

a parte que falta, o segredo

o lado belo do enredo

o porquê que escapa à resposta


sei tudo menos

a justificação

é tudo o que importa.

 

 

 


segunda-feira, 9 de agosto de 2021

 

meio mundo

diz para ser persistente

a vivência diz o contrário

a alma reclama a verdade

a racionalidade também


meio mundo

fez-me ser o que sou

outra meia fi-la eu

metade de mim é ateu

a outra metade

atei-a


não sou um pobre coitado

não quero ser, obrigado!

Estou muito bem

assim mal


de que me queixo, afinal?


Meio mundo

tudo a metade do ser

zonas cinzentas a mais


acordas e és nevoeiro

à noite, cintilas demais.

 

 

 

 

Tudo flui

tudo fui

tudo foi


um sopro sentido apenas

segundos após o impacto


o resto é lastro cinzento

a fissura queimada

onde nascem ervas

daninhas


há sempre as partículas que se espalham

voam à sua sorte

aterram num sabe-se-lá-onde

que pode germinar

um sabe-se-lá-o-quê


e repetem-se ciclos

sem sentido

desprovidos de intenção

porque sim

por que não?

 

admiro os estrategas

a malta da planificação

os estruturadores


não é que queira

ser como

eles existem


respeito a crença

na possibilidade de conter

o caos.


Pena que sempre falhem…

 

 

 

espada de ronin

numa mão decapitada

são papéis ao vento.

 

 

 

não creio que possa surpreender-me

a realidade

mesmo que digas que sim

e toda a gente

e eu próprio o considere

racional


quebrado tem sempre diferente

perspectiva

é para onde mais se olha

e menos

se vê.

 

 

 

 

Recuso a vida

em protesto


vingança autofágica

greve do ser


não dá

aceitar poucochinho.

 

 

 

nas horas em que tudo

parece desabar

sobre ti

a ilusão do ímpeto vital

como cordas de marioneta


e tentas ser agradável

mesmo sabendo

que não agradas a ninguém


e depois?

morreram as vacas e ficaram

as figuras tristes

de ser pensante


pelo menos podes crer

não será algo que dure.

 

ver todos os lados

é atributo invulgar

sobretudo impopular

para quem se diz convicto


quero que todos se afoguem

na piscina do ridículo

já eu dependurado

na forca do infinito

borrifando o meu desprezo


meu esgar final seria

o sorriso de desdém.


 

 

 

Houve tempos de sentido

em que queria colocar

sintonias em comum


meteu-se a rede

foice a partilha


nunca ficaram à espera

os arbustos

de daninhas permissões.

 

 

 

És tudo

que sempre quis

antes de ser

o que sou


sinto-me tentado

a pedir um resgate

mas cresci

não seria justo

para ti.

 

 

O que disse é nada

o que posso

dar é tudo


nem um pouco

dei a ver

do que pó de ser

visível


sei que és indisponível

como tudo que se vê

sou apenas o porquê

do que é

ou não possível


não é só

o facto de estar

a factualidade da estância


é o porra que digo

ao amanhecer

quero que a lógica se vá…

até que a venhas trazer!

 

 


Sei lá

se lamentar a sorte

evapora

fantasmas dançantes


sei que danço

nos instantes encantados

pelo cruzar

das brumas


o delírio galopante

a enredar-se

como fumo entre os dedos


memórias que assombram

castelos do nunca

uma salva de flechas

contra escudos de vidro

estilhaçam


remoinhos emocionais

sem fundo

cospem partículas

no vácuo


fomentando desejos

na poeira astral


é quando surges etérea

que te afago o corpo

e materializo

fantasias quase

secretas


o sussurrar subtil

envolvente

um convite à imensidão

de duração incerta


- Vem beijar o caos criador

do sopro navegante

no mar da volúpia


acariciar o porvir

rasgar a pele do futuro

a quatro mãos massajado


pode mover-se a ar quente…